As mulheres das águas de encontraram pela primeira vez em Crateús. Um momento dedicado só as mulheres, as pescadoras dos açudes e do mar, as mulheres do município. Uma ocasião para compartilhar histórias, sensações e fazer uma análise de conjuntura política e do mundo da pesca sem deixar para trás momentos de cuidado e relaxamento para essas guerreiras que cada dia lutam em um mundo machista e difícil para a realização plena dos sujeitos mulheres.

No centro de treinamento Dom Fragoso teve espaço para vozes diferentes que expressaram as preocupações que as mulheres têm hoje em dia.

“O que me preocupa é a situação do meu bolso família, fui atrás no INSS, mas não tem como receber esse dinheiro se tirar o seguro defeso da pesca, não acho justo” falou Adriana Oliveira, do Realejo.

Assim como ela, várias mulheres refletiram sobre os desafios do dia dia e compartilharam as dores e os pensamentos sobre o mundo da pesca, em relação às mudanças climáticas, a escassez e a poluição das águas que compromete a atividade da pesca e ao pagamento do seguro defeso e também falaram sobre o enfrentamento da violência contra a mulher e o machismo que não permite uma vida livre e plena.

“Tem muitas coisas que nos preocupam, a criminalização da classe trabalhadora que é vista como marginal e a violência contra a mulher, nós somos o segundo estado que mais mata as mulheres, o lugar mais perigoso é a própria casa, que devia ser o mais seguro. Por fato de nos nascerem mulheres é já um fator determinante que vamos sofrer um tipo de violência nas nossas vidas” argumentou Mariana Braga, do Conselho das Mulheres de Tamboril.

Trabalhos em grupos e momentos de socialização levaram essas guerreiras a se conhecerem mais e a aprender das outras experiências. Apesar de viver em lugares distintos e ter uma relação diferente com as águas, além de se encontrar para vivenciar momentos de cuidado, compartilharam as histórias. O grupo de mulheres acompanhado pelo projeto Tecendo Redes, executado pela Cáritas de Crateús e Cáritas Regional Ceará, financiado pela Misereor , falou sobre as oficinas que receberam e que foram decisivas no caminho para o empoderamento.

A noite foi um momento de muitas emoções: foi lançado o documentário “Pescadoras de Sonhos” com a presença das pescadoras protagonistas do curto que falaram do processo que vem levando dentro do projeto com a comunicação que apoio elas a ter mais confiança e autoestima. Uma ocasião para entender os desafios que a falta de estratégias e políticas públicas em um cenário de mudanças climáticas estão causando entre as comunidades pesqueiras tradicionais através dos retratos de sete mulheres pescadoras que lutam contra o machismo, aquele naturalizado até no mundo da pesca e que a cada dia desafia o trabalho dessas guerreiras.

“A gente precisa juntar essas pescadoras do mar e das águas continentais, esse encontro é um recado para esse momento de conjuntura, embora elas atuem em lugar diferentes, enfrentam os mesmos problemas, invisibilidade e violência, então esse seminário provoca uma articulação e uma capacidade de incidência maior para que elas sejam mais reconhecidas” afirmou Ormezita Barbosa, Secretária-executiva nacional do CPP, Conselho Nacional dos Pescadores.

“A gente precisa juntar essas pescadoras”

E não estava presente só o CPP, mas o encontro foi marcado pela presença de uma pescadora de Fortim, Maria Vale chamada de Maninha, um grande exemplo de mulher que começou a se envolver dentro dos movimentos e que hoje, graças ao empoderamento estimulado com as oficinas e as reuniões faz parte da coordenação do ANP, Articulação Nacional das Pescadoras que luta para o reconhecimento das demandas específica do mundo feminino no universo da pesca artesanal. 

Fotos e Texto: Lorenza Strano, assessora de comunicação