Na manhã do dia 8 de Março, Crateús acordou ao som de gritos de protesto. Foram os gritos de centenas de mulheres que decidiram celebrar o Dia Internacional da Mulher com a paralisação das atividades domesticas e produtivas e a ocupação das ruas do município. O ato público, organizado pela Caritás Diocesana de Crateús, a Frente Social Cristã, o Sindicato dos\das Trabalhadores\as Rurais, o Sindicato dos\das Professores\as, o MST, a Paróquia Senhor do Bonfim e a Paróquia Imaculada Conceição, começou as 7:30 da manhã com uma caminhada e terminou com a ocupação temporânea do INSS de Crateús.

Desde 1977, quando o Dia Internacional da Mulher foi reconhecido pelas Nações Unidas, o 8 de Março se tornou um dia de grandes manifestações. Porém, este ano a atividade carregou uma importância histórica, convocando uma Greve Internacional das Mulheres. Primeiramente foi o coletivo argentino “Ni Una Menos” que chamou as mulheres para se levantar e deixar seus trabalhos e protestar contra as desigualdades de gênero e a violência machista. Em seguida, as ativistas e os grupos feministas de todo mundo confirmaram a convocatória e mobilizaram a população feminina através das redes sociais. Dessa forma, 47 países aderiram à greve, realizando manifestações, marchas e atos públicos em todo mundo, com o mote “Se nossa vida não vale, que produzam sem nós!” . As pautas levadas para a rua são numerosas: o fim do feminicidio, da violência sexual, psicológica e física das mulheres; a igualdade salarial no mercado do trabalho, entre outras. No Brasil, o protesto abraçou a bandeira da luta contra a proposta do governo Temer de reformar a Previdência Social. A Reforma, que fixaria a idade mínima para aposentadoria aos 65 anos de idade tanto para os homens quanto para as mulheres, elevando o tempo mínimo de contribuição para 25 anos, afeta de forma cruel as mulheres, especialmente as trabalhadoras do campo. Além disso, ela desconsidera totalmente a sobrecarga de trabalho e responsabilidades socialmente e historicamente atribuídas às mulheres.

“A ideia da Greve Internacional da Mulher é inspirada no Dia Livre das Mulheres islandesas de 1975, quando 90% das cidadãs deixaram o próprio posto de trabalho para participar de um grande protesto contra as reformas políticas do país e em nome da igualdade de direitos entre homem e mulher” afirma Lia Pinheiro Barbosa, professora da Faculdade de Educação de Crateús (FAEC). “Com a greve internacional de hoje se registra um salto qualitativo na história do Dia Internacional da Mulher e da luta feminista. O protesto se caracterizou pela sua transversalidade, unificando as diferentes expressões do feminismo em escala internacional, contra a opressão do capital e do imperialismo. Essa articulação entre espaços de luta, em particular entre o campo e a cidade, favorece a construção de metodologias pedagógicas que irão fortalecer a luta das mulheres dessa região, na sua mobilização e formação política. É importante lembrar que o movimento feminista é muito heterogêneo. Ele nasce no Ocidente, mas se desenvolve em cada canto do mundo reconhecendo e incluindo as especificidades locais da luta. Assim, encontramos um feminismo indígena, um feminismo camponês-popular na América Latina, ou um feminismo islâmico no mundo muçulmano. As pautas de luta das mulheres, hoje, são heterogêneas também: elas gritam não só contra o feminicidio, a violência contra a mulher, o patriarcado e a misoginia, mas também contra a homofobia, a lesbofobia e a transfobia, incluindo todos os sujeitos femininos. Elas protestam também contra a exploração capitalista da mulher e a desigualdade dos salários. De fato, nós mulheres ganhamos 30% menos que os homens. Então se nossa vida e nosso trabalho não valem, que produzam sem nós”.

Em conclusão, foi perguntado para a Lia porque ela, como mulher, hoje decidiu deixar voluntariamente o seu trabalho e protestar. Ela respondeu: ”Hoje eu fui pra luta porque essa bandeira me representa, porque o patriarcado afeta o meu cotidiano e minhas relações íntimas, pessoais e trabalhistas. Vim para luta em solidariedade com as lutas das outras mulheres. Hoje, a minha tarefa histórica é contribuir à construção de uma nova agenda de luta e de um novo caminho para nossa libertação e emancipação como mulheres”.

Por viviana Pittalis, comunicadora popular da Cáritas Diocesana de Crateús.