A XIV Feira da Agricultura Familiar e Economia Popular Solidária foi vitrine do universo da agricultura sustentável e familiar e da convivência com o semiárido. Enquanto espaço de diálogo, de formação e resgate cultural a Feira, graças a sua programação que incluía oficinas, intercâmbios e seminários temáticos favoreceu a sensibilização de um público amplo sobre as potencialidades do território.
Antes mesmo da Feira começar (7 e 8 de junho), o Campus do IFCE – Sede Crateús foi palco da oficina de construção de um sistema de reuso de água cinza alimentado por painel solar. O sistema de reuso de água, aliado ao aproveitamento do sol que surge como energia renovável captada pelos painéis solares é usada como propulsora para irrigação dos vegetais e garante o 100% da sustentabilidade da produção. A oficina não só capacitou os e as participantes no processo de construção do sistema de bioágua, mas também implementou no Instituto Federal a tecnologia de reuso. A oficina foi realizada através da parceria entre IFCE, Cáritas de Crateús e o Instituto Bem viver que há anos trabalha na instalação destes sistemas para aproveitar cada gota de água, um bem precioso nos sertões do semiárido. Participaram da formação aproximadamente 25 pessoas entre estudantes, professores e professoras e membros de organizações parceiras da feira. O processo de construção do sistema bioágua aconteceu por etapas e com o apoio dos e das participantes.
Para Mardones Servulo, Coordenador do Instituto Bem Viver: “um ponto importante a se destacar é o espaço onde ele foi implementado, uma vez que estabelecimentos públicos situados no semiárido brasileiro não apresentam em seus projetos estruturais tecnologias de captação e armazenado de água, como as cisternas e muito menos tecnologias de reuso de água. Assim um sistema de reuso de água cinza implementado nas dependências do Instituto Federal de Educação do Ceará campus Crateús, pode chamar a atenção para necessidade de que essas repartições que normalmente consomem muita água possam adotar estratégias que ajudem no acesso e no manejo dos recursos hídricos”.
Para a técnica em agropecuária do Esplar, Fabiana Firmino dos Santos, participar da oficina ajudou a entender a tecnologia e o processo de construção: “participar dessa oficina foi muito produtivo, consegui entender quais são os elementos e as etapas da montagem dessa tecnologia. Após essa semana quero levar essa aprendizagem para as mulheres com quem trabalho, para dar mais espaço a essa tecnologia inovadora, que responde às necessidades do povo dos municípios de nosso Sertão”. Fabiana atua pelo Esplar em projeto com favorece a produção de alimentos sustentáveis com mulheres agricultoras.
O agente Cáritas Sandro Rodrigues Teixeira, que acompanha o Projeto Paulo Freire em Tauá e assistiu pela primeira vez ao processo de construção da tecnologia bioágua expressou que “essa tecnologia é de grande inovação em dois grandes sentidos, primeiro é uma forma de convivência com o semiárido, permitindo a reutilização da água e convertendo-a em produção, mas também trata-se de uma questão de saúde pública, dando uma destinação adequada a água cinza produzida no dia a dia”, afirmou Sandro.
Para fechar a oficina de implementação do reuso das águas cinzas os e as participantes participaram de uma conversa sobre “Crédito para energias renováveis”, coordenada pelo Banco do Nordeste que apresentou as formas de acesso ao financiamento para as tecnologias sustentáveis oferecidas pela banco.
Por dentro da oficina e do sistema de Bioágua
Entre os desafios rumo à cultura de convivência, a água desponta cada vez mais como um fator limitante, devido à própria condição de seca aliada a irregularidade da quadra invernosa, tornando-se um recurso natural escasso para a crescente necessidade das atividades humanas. Nesse cenário, o sistema de reúso das águas cinzas para produção de alimentos preenche uma lacuna fundamental do manejo e da manutenção da água.
A demonstração da sua montagem e do seu funcionamento no IFCE, centro de educação de importância fundamental no território do Sertão dos Crateús, teve o objetivo de garantir a visibilização dessa tecnologia para um público que poderá ampliar o conhecimento, já que essa implantação serviu como um laboratório demonstrativo da prática de reuso de água para a produção agroecológica. A tecnologia de reuso de água cinza consiste num processo de filtragem por mecanismos de impedimento físico e biológico dos resíduos presentes na água cinza. A água é reutilizada por intermédio de um sistema fechado de irrigação, destinado à produção de hortaliças, frutas, plantas medicinais e culturas forrageiras.
“Este sistema de reuso de água cinza implementado nas dependências do instituto federal de educação do Ceará campus Crateús, afirmou Mardones Servulo, pode chamar a atenção para necessidade de que essas repartições que normalmente consomem muita água possam adotar estratégias que ajudem no acesso e no manejo dos recursos hídricos”.
Por Ilaria Mirra
Fotos: Ilaria Mirra, Andreza Alcolumbre e Eraldo Paulino