Quem participa a cada ano da Feira da Agricultura familiar de Crateús sabe que é um evento único. Cada um e cada uma pode vivenciar a sua própria feira porque ela dá a oportunidade de senti-la como você quiser. Escolher participar das oficinas o dos intercâmbios, ficar somente nas barracas fazendo compras, aproveitar dos momentos culturais da noite na praça. São muitos momentos que acontecem em dois dias, especialmente para as pessoas que participam da troca de conhecimento nos intercâmbios que são realizados em Crateús e região.
As margaridas que cultivam o bem viver, título do intercâmbio de experiência de Nova Russas, são os reflexos de dois agricultores que decidiram de ficar no Ceará, resistir e continuar a cultivar através de práticas sustentáveis e inovadoras como as mandalas que inspiraram outros agricultores e agricultoras presentes. Em seguida, surge a mulher que luta por direitos e passa as tardes junto a outras mulheres para costurar crochê, gerar renda e empoderamento. Essa é a outra imagem que o município deixou na mente dos e das participantes.
Mostrar outra cara do Ceará, aquela que inventa saídas, que é criativa e pioneira, foi também o objetivo do intercâmbio de Novo Oriente. Protagonista da tecnologia de reuso das águas cinzas, o sistema de bioágua, reaproveita cada gota desse bem precioso: a água.
Raimundo e Joana mostraram com orgulho e felicidade o funcionamento do sistema que foi instalado no seu quintal pelo IBV, Instituto Bem Viver, que há anos luta para uma melhor qualidade de vida em harmonia com o meio ambiente.
Não só ONGs, mas as comunidades mesmas também tem esse cuidado e lutam contras as ameaças a uma vida saudável. Em Ipaporanga, os e as participantes ficaram impressionados com a determinação das pessoas que conseguiram defender o território da exploração minera, contando com perseverança e amor para a terra.
Esse mesmo amor para a natureza e a pureza da caatinga acompanhou a visita na Reserva da Serra das Almas, oportunidade de viver cada som, cada cor das paisagens incríveis e refletir sobre a construção do bem viver, valorizando o nosso patrimônio natural e cuidado da nossa terra.
Aprender a ter esse respeito passa pelo conhecimento, por um caminho da vida onde se encontram várias oportunidade de explorar e experimentar como a Feira, espaço livre e enriquecedor. Nesse espaço é fundamental o papel da educação como ferramenta para a superação da violência e o bem viver no campo. Por isso não podia faltar o intercâmbio na EFA Dom Fragoso que entrelaçou as práticas agroecológicas inovadoras, a pedagogia da alternância e a construção das alternativas para o desenvolvimento sustentável.
Além disso, o papel da educação é aquele de valorizar a diversidade cultural e a vontade das comunidades de aprender a partir de sua bagagem e vivências. Este foi o foco da visita ao povo indígena de Tamboril, onde entre danças e falas na escola se encontraram dois mundos diferentes em um diálogo profundo.
É sonhando a revolução que os jovens vem possibilitando transformações importantes no assentamento de São José em Crateús. Durante este intercâmbio mostraram os resultados do consórcio de plantas, prática extremamente importante para a produção de hortaliças, grãos, frutas e outras culturas, que tem inúmeras vantagens econômicas e ambientais.
Essa atenção ao meio ambiente e a economia solidária que aumenta a renda e assegura melhor a qualidade de vida no sertão sem prejudicar o território sempre foi o lema da Feira, que através destes intercâmbios possibilita levar e adequar os conhecimentos tecnológicos e o aprendizado para a cultura da paz e o bem viver.
Foram muitos quilômetros percorridos, agricultores e agricultoras, pescadoras e pescadores, artesãos e artesãs de muitos estados desse eclético Brasil andaram pelo sertão, olharam as diferentes maneiras de enfrentar os desafios, de continuar lutando, de espalhar saberes, revolucionando o semiárido.
Por: Lorenza Strano
Fotos: Andreza Alcolumbre, Anita Dias, Raquel Dantas, Eraldo Paulino, Gladson Caldas, Lorenza Strano, Elenice Morais