Reunião com representações de We World, Cáritas, UFC e EFA Dom Fragoso, na área da escola.
Visando o Bem Viver das famílias camponesas do Semiárido, a We World e a Cáritas Diocesana de Crateús (CDC) vêm procurando ampliar o horizonte de parcerias para, entre outras conquistas, encontrar soluções tecnológicas que dialoguem com a sabedoria popular e tragam melhorias em várias dimensões da vida das comunidades. Foi assim que surgiu o Projeto Brasil e Trentino: Novas oportunidades de co-desenvolvimento 2019-2021, realizado conjuntamente com a Rede de Associações Brasileiras e Trentinas, Universidade Federal do Ceará, Universidade de Bologna (Itália), Fondazione E. Mach e a Escola Família Agrícola Dom Fragoso (EFA), de Independência-CE.
Envolvendo as e os estudantes da EFA em todos os processos, a ideia do projeto é desenvolver pesquisas na área de adubo orgânico, irrigação e reaproveitamento de água, querendo ir além das possibilidades já alcançadas pelo Bioágua Familiar, utilizando o propício espaço da escola para tal. A EFA, inclusive, já possui laboratórios e um método de ensino para a convivência com o Semiárido que são uma referência para todo o Ceará. Não por acaso, quem vai desenvolver a maior parte dos estudos de campo é Mardones Servulo, que estudou na primeira turma da escola e hoje é engenheiro agrônomo e doutorando da UFC.
“A minha jornada de formação política e acadêmica começou na EFA, que na época funcionava apenas com Ensino Fundamental. Depois de formado, sempre tentei dar retorno e compartilhar com a escola o que aprendi”, se orgulha Mardones, que também é membro do Instituto Bem Viver (IBV), criado basicamente por ex-educandos da Dom Fragoso, através do qual foi possível implementar o sistema Bioágua Familiar adaptado para a estrutura escolar. “É um privilégio poder hoje desenvolver meu projeto de pesquisa e extensão neste lugar tão importante para as famílias camponesas do Ceará”, avalia.
Área sendo preparada para o roçado na EFA.
ENTENDA O PROJETO
O Projeto Brasil e Trentino: Novas oportunidades de co-desenvolvimento 2019-2021 dialoga diretamente com os objetivos da Agenda 2030 da ONU, e tem o intuito de gerar novas possibilidades de técnicas agroecológicas, na perspectiva da convivência com o Semiárido, para que as famílias camponesas continuem produzindo com qualidade e relativa abundância mesmo em tempos de estiagem prolongada. Mais especificamente, as pesquisas serão divididas em dois períodos distintos na vida do Semiárido: A chamada “Quadra Chuvosa” (aproximadamente de dezembro a junho, embora com precipitações mais concentradas de março a maio) e o período de estiagem, (aproximadamente de junho a novembro).
Na primeira etapa será testado o aprimoramento do plantio de feijão, na chamada “Cultura de Sequeiro”, ou seja, a roça tradicionalmente cultivada no período chuvoso pelas famílias camponesas da região semiárida do Brasil. Nesta fase serão testados adubos orgânicos e outras formas de manejo que potencializem tal produção nas comunidades. No período de estiagem, serão testadas formas de reuso de águas que vão além do que já feito no Bioágua Familiar, com intuito de criar áreas de plantio de palma irrigadas com água reutilizáveis, com a finalidade de fornecer alimento para ovinos e caprinos, animais de médio porte adaptados ao Semiárido, na perspectiva de garantir forragem mesmo em períodos de seca.
“Como os estudantes participam de todas as etapas, da construção ao processo de pesquisa, estamos ao mesmo tempo fazendo pesquisa e extensão, porque todas as famílias e as comunidades das/os educandas/os de forma indireta também estarão sendo contempladas nessa busca por conhecimento”, argumenta Mardones. A EFA Dom Fragoso adota o modelo da Pedagogia da Alternância, em que os espaços de aprendizagens são divididos em “Tempo Escola” e “Tempo Comunidade”, levando e trazendo de forma contínua e processual os saberes populares e acadêmicos.
Ao fim desse processo de pesquisa, as famílias que fazem parte da EFA terão um espaço ainda mais reconhecido enquanto laboratório de saberes, aumentando as possibilidades de tecnologias acessíveis não só a elas, mas para todas as comunidades que busquem aprimorar suas práticas. Numa conjuntura em que a ciência vem sendo atacada no Brasil de várias maneiras, ações como essas são, de muitas maneiras, uma forma de resistência.