A seguir leremos o testemunho da agente da Cáritas Diocesana de Crateús, Dulce Fabian, de quando ela presenciou a violenta e covarde repressão policial contra as pessoas que foram se manifestar contra a aprovação da PEC 55, conhecida como a PEC da Maldade. Com a perplexidade de quem se recusa a naturalizar absurdos, mas também com a esperança inabalável de uma verdadeira cristã, as palavras dela nos levam para dentro de um cenário de guerra, digna do mais absurdo estado de exceção.

30 de novembro ficara marcada na história do Brasil como uma página triste. Estando participando na Oficina da Rede MAGRE, em Brasília, tomamos a decisão de ter como parte da programação nossa participação no Ato contra a PEC 55. O início se deu de forma tranquila. Nos juntamos aos quase 30 mil manifestantes, seguimos de forma organizada e pacífica rumo ao Congresso. Fomos cantando e gritando algumas palavras de ordem. Nos posicionamos diante do Congresso  e em menos de 1 hora  teve início os ataques por parte do forte policiamento,  que deveria estar lá para nos proteger.

Começaram com cavalaria, bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta. O número de polícias era grande e quantidade de bombas também. Isso provocou correria, pois partiram para cima batendo em quem estava na frente, com muita violência. Muitas pessoas ficaram feridas pelos estilhaços das bombas, outras desmaiavam. Vi jovens sendo presos, pessoas feridas e crianças perdidas de suas famílias. As/os campanheiros/as da Cáritas e eu também corremos, de mãos dadas para que não nos perdêssemos. Mas também recebemos bombas que arderam nossos olhos. Recebemos de uma jovem vinagre para abrandar os efeitos do gás.

Outro agravante era o helicóptero que sobrevoava baixo dobre nós para espalhar a fumaça da bomba. Foi uma Barbárie, uma cena de terror. Quando conseguimos chegar na Catedral, percebemos que a polícia continuava sua investida contra nós e seus ataques tinham um propósito: dispersar e dividir as pessoas, chegando ao ponto de jogar bombas em cima do carro de som, onde os organizadores estavam tentando orientar, acalmar e buscar socorro médico para as pessoas. Eles eram muitos e cercaram de todos os lados.

Não me lembro de ter vivido isso nem nos anos 80 no período da ditadura. Tive medo por mim, pelas pessoas, foi terrível a forma como fomos tratados por policiais comandados por este governo ilegítimo, que para garantirem seus salários  precisam bater e prender estudantes. Somos pessoas do BEM que encontramos o MAL.  Espero que as redes sociais mostrem a verdade, pois o terror veio por parte da polícia.  Mas a certeza de que quando o povo se organiza deixa amedrontado os poderosos, porque eles não tem como prática o diálogo, por isso utilizam sua violência covarde para resolver situações de conflito.

Por Dulce Fabian.