Em sessão tumultuada realizada na noite de ontem (11/10), a mesa diretora da Câmara Municipal de Crateús usou a velha burocracia estatal contra o anseio de mais de 7 mil pessoas, que assinaram o Projeto de Lei de Iniciativa Popular com objetivo de diminuir o subsídio fornecido aos parlamentares crateuenses. No contexto de crise econômica vivida pelo país, dias após professores do município precisarem ocupar a Secretaria Municipal de Educação para conseguir aumento que lhes era garantido por lei, a população ficou revoltada com o reajuste concedido a si próprios pelos legisladores, sem qualquer debate com a sociedade. Na audiência pública realizada por consequência de grande pressão popular, com as galerias lotadas e cerca de mil pessoas em frente à “Casa do Povo”, o presidente da casa, vereador João de Deus, concedeu a fala a militantes que defendem o projeto, pessoas contrárias à proposta, vereadores contrários e defensores, mas ao fim tratou a situação como uma qualquer, e decidiu submeter o esforço de 10% do eleitorado da cidade ao protocolo tradicional, tendo de passar pelo crivo da Comissão de Constituição e Justiça, da equipe jurídica da casa, sabendo que, por faltarem apenas três sessões para concluir a legislatura vigente, será impossível concluir o processo com a urgência que o povo pede.

Como citou o promotor de justiça do Estado do Ceará, José Arteiro Goiano, já aderiram a propostas semelhantes cidades como Iguatu, no Ceará, e a paranaense Londrina, que é de um estado rico da Federação. “Nós viemos aqui para negociar. Não é possível que vocês não tenham a sensibilidade de ouvir o clamor da população. É um absurdo que 7% de um PIB paupérrimo como o de Crateús seja dedicado a subsídios para vocês, que não precisam disso como o povo pobre daqui precisa”, argumentou Arteiro. Dom Ailton Menegussi, Bispo da Diocese de Crateús afastado por motivo de doença, foi representado pelo padre Antônio José, da paróquia Senhor do Bonfin. O presbítero leu carta do líder da igreja particular de Crateús, cujo conteúdo também peda para que os vereadores ouvissem a reivindicação das cidadãs e dos cidadãos crateuenses. Porém, apesar de todos os gritos de ordem, de toda força da mobilização popular, o que se viu foi a arrogância de quem acredita que a opinião de um vereador eleito pelo povo é maior do que a voz do próprio povo. “Este projeto será tratado como todos os outros, e passará pelos trâmites legais desta casa”, determinou João de Deus. Resta à população consciente, a sociedade civil organizada, as igrejas e toda pessoa de bom senso fazer a devida pressão pacífica, para que estes servidores públicos não tratem um projeto assinado por um número de pessoas superior ao que os elegeram para este cargo como um qualquer.