A Cáritas Regional Ceará pretende realizar Planos de Desenvolvimento Local Sustentável (PDLS) em pelo menos 40% das comunidades atendidas em todo estado até 2018. Uma das estratégias para alcançar tal meta foi a realização de um Intercâmbio para aprofundar o tema, no período de 10 a 12/05, em Crateús. Participaram representantes das Cáritas Diocesanas de Itapipoca, Crato, Limoeiro do Norte, Sobral, Tianguá, Iguatu, Crateús, Arquidiocesana de Fortaleza e agentes do Secretariado Regional. Os estudos e partilhas de experiências foram realizados no auditório da instituição anfitriã. Na noite do segundo dia as/os agentes Cáritas da rede cearense participaram da Mesa de Negociação entre 18 comunidades da periferia crateuense e o Poder Público, realizada no salão do Sindicato dos Comerciários.

O PDLS é uma metodologia adotada pela Cáritas de Crateús como “modo de ser” em todos os projetos executados pela instituição, e de maneira semelhante pelas Cáritas de Fortaleza e Limoeiro do Norte. Consiste no empoderamento das comunidades para a conquista de políticas públicas e cidadania. O primeiro passo é realizar um diagnóstico na comunidade para que o coletivo conheça as ameaças, as fraquezas, mas também as forças e as oportunidades que podem ser aproveitadas. Depois disso as lideranças comunitárias preparam-se para reivindicar o que julgam necessário numa Mesa de Negociação, como forma de exigir direitos, e não favor. Todas as solicitações contratuadas são monitoradas no momento chamado “pós-mesa”, para fazer, assim, o devido controle social.

A MESA

A Mesa de Negociação foi preparada de forma soberana e autônoma pela Frente Social Cristã (FSC), ONG que trabalha há mais de 50 anos acompanhando organizações comunitárias nos bairros de Crateús, sobretudo para a questão de moradia. As lideranças comunitárias assistidas pela Frente adotaram o PDLS como método de conquista de políticas públicas. As reivindicações apresentadas ao Poder Público foram construídas por representantes dos bairros Cidade Nova, Cidade 2 Mil, Comuna Padre Gerardo Fabert, Cajás, Patriarcas, Altamira, Ponte Preta, São José, Fátima I, Planaltina, Santa Terezinha, Campo Velho, Campo Verde, Fátima II, Nova Liberdade e Frei Damião, Santa Rita, Clemilândia e Vila Nova.”Há alguns anos nós fazíamos com elas esse processo, mas agora nós só damos um apoio, porque a gente acha importante que depois de um tempo acompanhados os grupos e as comunidades consigam caminhar com as próprias pernas”, argumentou a Ir. Erbenia Sousa, coordenadora da Cáritas de Crateús.

O protagonismo das mulheres

As demandas tiveram como eixos principais: saúde, moradia e direitos da juventude. Representaram o Governo Municipal: Assistência Social, Secretaria de Infraestrutura, Secretário de Saúde do Município, Ângelo Luis Leite Nóbrega, e Wanderley Marques, do Gabinete do prefeito. COGERH e Cagece não mandaram representantes e não justificaram a ausência. Das lideranças comunitárias que fizeram exigências, todas são mulheres, bem como a maioria do público presente, enquanto que os representantes do governo eram, na maioria, homens. Também participaram da negociação Patrícia Amorim, secretária executiva da Cáritas Regional Ceará, Padre Helton Rodrigues, presidente da Cáritas Diocesana de Crateús, e o vereador Kleber.

Dentre as demandas solicitadas, a representação municipal atendeu concretamente a exigência de médicos nos postos de saúde dos bairros. Atualmente alguns só contam com enfermeiros, que não podem receitar. As demais solicitações, especialmente construção de quadras e espaços de lazer para a juventude nas periferias, mais vagas de cursos profissionalizantes e regulação fundiária, embora não negadas, tiveram respostas um tanto imprecisas, “porque em ano eleitoral a gestão só pode iniciar novas obras até junho, mas no pós-mesa continuaremos monitorando, seja qual for a gestão, e se preciso realizaremos outra Mesa”, pontuou Estevânia Ferreira, agente Cáritas e coordenadora da FSC.

APRENDIZAGEM

“Eu fiquei satisfeito com o que vi”, partilhou  Manoel Leandro, agente da Cáritas Diocesana de Crato, referindo-se a comunidade que, apesar das limitações, envolveu-se no processo de conquista de direitos, uma aprendizagem que ninguém mais pode tirar dessas pessoas, segundo ele. Já Patrícia Amorim lembrou que é um desafio para a Rede Cáritas cada entidade membro adotar essa metodologia a seu modo. Ela acredita que essa seria uma forma de qualificar a intervenção das/os agentes nas comunidades para a plena conquista de um Plano de Desenvolvimento que seja Sustentável, Solidário e Territorial.

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Texto: Eraldo Paulino

Fotos: Eraldo Paulino, Marciel Melo e Marta Versaci