A XI Feira da Agricultura Familiar e Economia Popular Solidária do Território Inhamuns-Crateús apresentou a milhares de pessoas ótima amostra do melhor que o povo do campo e da cidade do e no Semiárido pode oferecer. Nos dias 04 e 05 de junho, na praça Gentil Cardoso (mais conhecida como “Praça dos Pirulitos”), em Crateús, a culminância de um processo de acompanhamento ao homem e a mulher do campo, do fortalecimento da agroecologia, da organização de base e em rede fez com que 190 empreendimentos, que levaram cerca de 380 feirantes (sendo 70% mulheres) de 30 municípios a realizarem a maior de todas as edições de um evento que, em 2015, ganhou proporção nacional, já que participaram representantes de outros 15 estados brasileiros de todas as regiões do país.

Além disso, outra característica marcante desta feira é a construção coletiva. Em 2015, entre entidades realizadoras, patrocinadoras e apoiadoras foram 33 instituições construtoras diretas, cuja coordenação geral é formada pelas Cáritas Diocesana de Crateús (CDC), Prefeitura Municipal de Crateús e Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do Ceará (Fetraece) – Regional Crateús. Com contribuições que variaram de panfletar nas ruas até ceder carros e/ou colaborar financeiramente, muitas mãos se uniram para tornar esse evento possível. Esta união gira em torno de um projeto político em construção, mas que já traz consigo algumas convicções e princípios, a exemplo da defesa incondicional da agricultura familiar e de uma visão de mundo no Semiárido que busca conviver com os desafios e as potencialidades deste bioma.

Esse evento foi possível graças às tecnologias de convivência com o Semiárido, que são fruto desse processo de aprendizagem e educação populares, e o empoderamento do campesinato local. Prova inconteste disso é que esta foi ainda maior do que todas as edições anteriores, mesmo a região experienciando o 4º ano consecutivo da chamada seca.

A APOSTA DA REDE CÁRITAS

Segundo Valquíria Lima, da coordenação nacional da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) e membro do Secretariado Regional da Cáritas Regional Minas Gerais, a Rede Cáritas no Brasil resolveu voltar os olhos para esta experiência de feira, por esta representar bem a necessidade de fortalecer a agricultura familiar, a economia solidária em consonância com a política de convivência com o Semiárido, em nome de um Projeto Popular para o Brasil. “Este ano trouxemos para dentro deste universo o I Encontro de Mulheres do Semiárido, assim como o Encontro Nacional de Economia Popular Solidária da Rede Cáritas, com representantes de 14 estados brasileiros”, informou. Esses encontros foram realizados nos dias 03 e 04.

Lembranças do Encontro Nacional de EPS – Foto de Eraldo Paulino

Além deste evento, a Cáritas Regional Ceará trouxe catadoras e catadores de materiais recicláveis das regiões de Limoeiro do Norte, Cariri e de Fortaleza para vivenciarem um intercâmbio com a experiência exitosa do trabalho de coleta seletiva da Prefeitura Municipal de Crateús. “Um dos nossos objetivos com esse intercâmbio é trazer pra dentro do nosso trabalho de acompanhamento a essa categoria o debate de economia solidária. E esta feira é um espaço privilegiado pra isso”, comentou Maria Glória Carvalho, do Secretariado Regional da Cáritas Regional Ceará. Esta opção política da Rede Cáritas ocasionou a vinda de 160 pessoas de fora do território inhamuns-Crateús (tanto de outras cidades cearenses como de outras regiões do Brasil) à feira de Crateús.

OFICINAS E ASSEMBLEIA

Quem vai para a feira só a noite às vezes pode não saber, mas as/os feirantes tradicionalmente vivem intensamente tal experiência desde as primeiras horas do dia. Na chegada no 1º dia (04) é feito o credenciamento, e pela tarde é realizada a Assembleia das/os Feirantes, para apresentar a elas/es o objetivo, um pouco da história e fundamentalmente proporcionar espaço para cada tipo de empreendimento acordar coletivamente o preço mais justo para a comercialização, “afinal de contas, nossa proposta é diferente da do mercado tradicional. Não queremos estimular a competição e sim o espírito de cooperação”, argumentou a irmã Erbênia Sousa, coordenadora da Cáritas Diocesana de Crateús (CDC).

Já durante os períodos matutino e vespertino do segundo dia (05) são realizadas oficinas, abertas ao público, mas principalmente voltados para ajudar na formação das/os protagonistas da feira que são as/os empreendedoras/os populares. Neste ano foram ofertadas oficinas de Conjuntura Hídrica, Grafite, Cordel, Produção e Comercialização, Economia Popular Solidária, visita à Serra das Almas e sobre Prestação de Serviço das/os Catadoras/es em Eventos, como foi o caso da Copa do Mundo em Fortaleza. Este ano, inclusive, houve participação maior da juventude das escolas estaduais de Crateús nestes espaços formativos, símbolo da união entre campo e cidade e de várias gerações em torno de um único objetivo: construir um mundo melhor, mais justo e solidário.

Foto de Mateus Sousa

A FEIRA

“Eu acho muito especial esse momento de contato com o povo na feira. Porque é quando tenho retorno de todo meu esforço, troco experiência com minhas colegas agricultoras de vários lugares e divulgo meus produtos. E este ano a movimentação está melhor do que nos últimos anos”, avaliou Maria de Jesus, agricultora da comunidade Santo André, Crateús, que participou de todas as edições da feira até então. Nas duas noites de realização o público compareceu massivamente, sendo embalado pelas atrações culturais que por várias vezes fizeram uma multidão se reunir em volta do palco, para depois irem apreciar e comprar a produção variada, de qualidade e criativa das/os feirantes.

Na primeira noite foi realizado o II Festival de Sanfona, com sanfoneiros da região e a participação de Adelson Viana. Muito forró, xaxado, baião embalaram danças que não pararam nem quando a chuva caiu. Na segunda noite, a poesia, o hip-hop, o forró, orquestras e diversas outras expressões artísticas fizeram de quem foi aproveitar o feriado na praça uma decisão acertada. “É a primeira vez que eu participo e só tenho elogios. As atrações são boas, os produtos são bons e as comidas são boas. Pretendo voltar nos próximos anos”, comentou o Dr. Antônio Coutinho Saboia.

Foto de Eraldo Paulino

Vale ressaltar o espaço da Cozinha do Sertão. Mugunzá, Maria Izabel, churrasco de carneiro e tantas outras delícias deixaram, assim como todos os saberes e sabores envolvidos na XI Feira da Agricultura Familiar e Economia Popular Solidária da região de Crateús, um saboroso gosto de “queremos mais”. “Muita gente me perguntou por que só são dois dias de feira. Sinal de que gostaram”, concluiu  Mauro Soares, prefeito de Crateús.

Por Eraldo Paulino, comunicador popular da Cáritas Diocesana de Crateús.