Fortalecer as juventudes acompanhadas pelo Projeto Paulo Freire nos processos produtivos e de organização comunitária, valorizar as diversidades e compartilhar saberes na perspectiva de empoderar jovens, tornando assim, protagonistas nos espaços de decisões políticas. Com este propósito que entre os dias 24 e 26 de janeiro o Centro de Educação, Ciências e Tecnologias da Região dos Inhamuns (CECITEC/UECE), no Sertão dos Inhamuns, município de Tauá, abriu as portas para acolher cerca de 200 jovens dos municípios de Aiuaba, Arneiroz, Quiterianópolis, Parambu e Tauá, para o Festival das Juventudes do Semiárido do Inhamuns.

Para a Tecnóloga em Tecnologia de Alimentos, Agente Cáritas, Coordenadora da 1ª etapa do Projeto Paulo Freire Daniela da Silva Cavalcante: “este Festival, que é o terceiro no estado, foi desenhado com a proposta de trazer as juventudes pra serem protagonistas das ações, desde a programação e toda a mobilização foram realizadas e pensadas nesse contexto”. Daniela ainda destacou a presença e o apoio de vários parceiros que contribuíram na realização do Festival, desde os escritórios regionais, as equipes de assessoria técnica de outros territórios do projeto, voluntários (as) da Cáritas, a PJR, Pastoral da Juventude Rural, o Levante Popular da Juventude, a FETRAECE e os Sindicatos.

O evento é uma das etapas regionais que antecedem a estadual, previsto ainda para este semestre. Diante disso, jovens dos outros 3 territórios do Projeto Paulo Freire também participaram: Sobral 1 e 2 e Cariri. De Organização da Cáritas Diocesana de Crateús e do Centro de Pesquisa e Assessoria Técnica (Esplar), o festival é promovido pela SDA, Secretaria do Desenvolvimento Agrário, através do Projeto Paulo Freire e conta com o apoio do Instituto Agropolos do Ceará e financiado pelo FIDA, Fundo Internacional de Desenvolvimento da Agricultura.

Para o jovem, agente Cáritas e assessor do Projeto Paulo Freire, Francisco Auricélio dos Santos Araújo, da comunidade Massapê dos Justinos, no município de Tamboril, o evento “é muito importante, pois reúne jovens não só de comunidades e municípios distintos, como também de saberes, culturas e potencialidades” e destaca que, como técnico de campo, “o intuito é ajudar é ajudar as juventudes a se incluir, criar ou interagir com grupos de jovens nas comunidades e a ter vez e voz ativa em espaços como as associações comunitárias”.

Com o tema: “Agroecologia e Democracia no Ceará”, durante estes três dias, buscou-se proporcionar um espaço de diálogo e troca de experiências entre as juventudes rurais através de oficinas, intercâmbios, rodas de conversas e convivências com jovens do semiárido; valorizar as manifestações culturais e artísticas e elaborar uma Carta-política das juventudes rurais dos Inhamuns para o Governo do Estado.

A jovem quilombola e mobilizadora social beneficiária do Projeto, Bruna Lopes Gualberto, da comunidade quilombola Serra dos Paulos, município de Parambu, “a troca de experiências proporcionada pelos intercâmbios e oficinas ajudaram a reafirmar que não é necessário deixar o campo em busca de melhores condições de trabalho e educação”, alternativas de convivência com o Semiárido apresentadas e ofertadas pelo Projeto Paulo Freire nas comunidades reiteram e proporcionam isso, para ela, a satisfação em receber assessoria técnica prestada pelos técnicos do projeto é algo impossível de descrever, já que a comunidade nunca teria condições financeiras para contatar tais serviços.

Para o jovem indígena Thallysson Teixeira de Matos, da aldeia Fidélis, em Quiterianópolis, a oportunidade de apresentar um pouco da sua cultura através de uma roda de Toré durante a noite cultural e a oportunidade de contribuir numa oficina fazendo algumas pinturas corporais foi o que achou de melhor no evento, pois aprendeu e ensinou um pouco do que sabe.

Oficinas e Intercâmbios

 De acordo com a coordenadora do projeto Daniela, “os jovens foram inseridos, mergulhados, numa série de atividades onde eles estão se encontrando descobrindo habilidades e talentos. As oficinas não tem um viés meramente produtivo, as temáticas e direcionamentos buscam proporcionar um diálogo, uma diversidade de argumentos para que eles possam se questionar, envolver de fato e vão ter outros olhares para si e levar essa experiência para as comunidades onde vivem.”

Nove intercâmbios contribuíram com a movimentação e troca de saberes: Caprinocultura e Horticultura (comunidade Junco-Tauá), Quintal produtivo (comunidade Oiticica/Milagres-Tauá), Policultura (Sítio Bom Tempo-Tauá), Trilha Agroecológica (no Serrote Quinamuiu), Bioágua (comunidade Inácio José-Quiterianópolis), Educação Contextualizada (comunidade Altamira-Tauá), Caprinocultura leiteira e a experiência do Grupo de jovens (comunidade Açudinho-Tauá).

Nesta perspectiva, as 10 oficinas temáticas também ajudaram a movimentar as juventudes rurais presentes, com temas e abordagens e linguagens especificas e particulares a cada uma e com os resultados apresentados na Noite Cultural: na oficina de “Identidade e Sucessão Rural – pertencimento e territorialidade”, a linguagem abordada foi a Contação de história; na oficina “Juventude Rural Viva – Juventude quer viver!”, foi à vez do teatro; as “Margaridas em Marcha – Nenhum direito a menos!”, com percussão; a oficina de “Educação para convivência com o Semiárido – é no Semiárido que a vida pulsa!”, trabalhou através de cordéis; foi com conversa desenhada que aconteceu a oficina “Juventude, Saúde e Diversidade Sexual – comunicando direitos; a linguagem utilizada na oficina “Economia Solidária e Comercialização” foi teatro de bonecos; já a oficina “Agroecologia e Sementes Crioulas – Sementes da Vida”, utilizou-se de estandartes; muitos turbantes e pinturas corporais embelezaram ainda mais o Festival com a oficina de “Identidade étnico-racial – Resistência de um povo; juventude rural também é tecnológica, mídias sociais, foi a linguagem adotada pela oficina “Intervenções Tecnológicas e Mídias Sociais”; a oficina “Metodologias participativas – intercâmbio de saberes”, usou a fotografia.  

Carta das Juventudes*

Para finalizar o festival, que durante 3 dias abraçou a diversidade e deu um show de possibilidades foi elaborada uma carta-proposta das juventudes. De acordo com Daniela, “além de um elemento para se levar a Estadual, mostra o rosto das juventudes do território, foi construída e pautada pelos anseios das juventudes, que têm consciência que tem que tomar a dianteira no enfrentamento das dificuldades, assim, o estado precisa entender e buscar possibilidades para que a juventude possa cada vez mais atuar em todos os espaços”.

No texto da Carta-política, as juventudes dos Inhamuns já afirmam que: “em nossas diversidades de cores, raças, etnias, religiões, culturas, saberes e formas de amar: discutimos sobre os passos que já foram dados acerca de políticas públicas executadas nos últimos anos e que contribuíram para uma melhor forma de viver e conviver no semiárido; afirmamos a importância da nossa organização, participação nas decisões da comunidade e nos processos produtivos, o empoderamento da juventude negra, das mulheres, dos povos indígenas, quilombolas, LGBTQ+ e, a importância da nossa cultura e a reafirmação da nossa identidade enquanto jovens rurais. Além de refletirmos sobre os nossos avanços, refletimos também sobre os desafios e ameaças que estamos sofrendo”.

“Para o bem viver no semiárido, precisamos de: Educação contextualizada no campo, dialogando a realidade dos jovens; criar cotas específicas nas Universidades estaduais destinadas aos jovens filhos/as de agricultores/as familiares; avançar no debate e promoção da agroecologia para um desenvolvimento rural sustentável; construir Espaços de lazer e valorização da cultura e arte local; ampliar as políticas de acesso a terra, água e sementes para produção; construir e dar visibilidade a políticas afirmativas (Mulheres, Quilombolas, Indígenas e LGBTQ+); incluir as juventudes com necessidades especiais nos espaços de participação”.

O Projeto Paulo Freire

O Projeto Paulo Freire tem como objetivo reduzir a pobreza e melhorar de vida de agricultores (as) familiares da condição de extrema pobreza de 31 municípios cearenses. São acompanhadas 600 comunidades rurais com baixo Índice de Desenvolvimento Humano, através do desenvolvimento do capital social e humano e da produção sustentável para aumento da renda a partir de fontes agrícolas e não agrícolas com foco prioritário nos jovens, mulheres e povos tradicionais.

“Vamos ousar, vamos lutar, vamos resistir, vamos vencer!

Alerta, desperta, ainda cabe sonhar!

Viva as Juventudes do Território Inhamuns”

*Trechos da Carta das Juventudes

Por Gilvan Gomes, voluntário da Cáritas Diocesana de Crateús

Fotos: Gilvan Gomes