Na noite ontem, 05/07, ocorreu o lançamento do Caderno de Conflitos no Campo 2015, no auditório do Instituto Federal do Ceará (IFCE) – Campus Crateús, numa realização da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em parceria com a Cáritas Diocesana de Crateús, Frente Social Cristã, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Comissão de Justiça e Paz, Sindicato das/os Trabalhadoras/es Rurais de Crateús, Crede 13, Universidade Estadual do Ceará (UECE), Universidade Federal do Ceará (UFC) e o próprio instituto.
Padre Maurizio Cremaschi, animador da CPT na região de Crateús, fez a introdução do evento trazendo as razões históricas que levaram a CPT a sistematizar e analisar informações sobre violência no campo notificados, ou seja, em pleno século 21 ainda há muitos desrespeitos a direitos que são invisibilizados. Ele recordou até onde pode ir a ganância dos poderosos lembrando de alguns mártires que tombaram por defender a classe trabalhadora contra o latifúndio e outras chagas enfrentadas pela população camponesa, como padre Josimo e irmã Dorothy. Em seguida representantes da Faculdade de Educação da UECE fizeram um apanhado geral das informações e análises contidas no livro. “São dados fortes, revoltantes, mas que nos ajudam a refletir sobre uma realidade que não é mostrada pela Grande Mídia”, comentou a professora Lia Pinheiro, da UECE.
Professora Lia Pinheiro fala sobre as reflexões trazidas no caderno
Entre os números de conflitos evidenciados no caderno estão o aumento de trabalhos análogos à escravidão, conflitos fundiários, sobretudo envolvendo populações tradicionais (indígenas e quilombolas) contra o agronegócio e grandes projetos do Estado, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. “Nós acompanhamos casos como o assassinato de pessoas e do Rio Doce na tragédia em Mariano, o genocídio da tribo Guarani Kaiowa, e infelizmente já dá para saber que ano que vem a CPT terá de publicar mais uma vez um caderno de conflitos porque a violência e a desigualdade que a ocasiona estão longe de acabar”, pontuou a educadora.
CONTEXTUALIZANDO
Para contextualizar a discussão trazida no Caderno de Conflitos, representantes da Frente Social Cristã, da CDC, do Comitê Águas para a Vida e da UFC explanaram sobre conflitos a exemplo dos sistematizados no livro que estão próximos de nós, resguardadas as particularidades. Estevânia Ferreira, da Frente, falou sobre a comuna Padre Gerardo Fabert, ocupação urbana organizada em conjunto com o MST, que há quatro anos lua pela conquista de moradia digna na cidade de Crateús. Dulce abordou a violência crescente contra jovens, especialmente homens e negros, configurando um nefasto genocídio racista, e a violência contra a mulher, que, em última instância, tem provocado um aumento alarmante do feminicídio no Brasil.
Dulce fala sobre violência contra mulheres e jovens megros
“O caderno vem apresentando aumento do conflito por água. Sabemos que nossa região é marcada profundamente por esse desafio e no 6º ano de seca isso fica muito nítido. Se houver colapso de água, serão principalmente os trabalhadores que padecerão”, comentou Paulo Giovane, militante do Comitê Águas para a Vida. Para concluir este bloco, o professor Rafael dos Santos da Silva, da UFC, falou sobre como a luta por direitos humanos se faz urgente e cada vez mais necessárias num país desigual como o Brasil que opta pelo caminho do desenvolvimento. Segundo ele, a própria origem do termo “des-envolvimento”remete à intencionalidade da classe dominante de usar os fetiches do mundo moderno (a exemplo da competição e do consumismo) como elementos desagregadores da população explorada, “e para romper essa lógica é necessário ocupar os espaços políticos e garantir o controle do Estado pelas mãos das e dos trabalhadoras/es”, concluiu.
O Caderno da Violência pode ser adquirido com o padre Maurizio (telefone para contato 88 – 9 96083337). Maiores informações sobre este material no site da CPT.