Cerca de 40 mulheres dos açudes e do mar participaram do “I Intercâmbio de Mulheres Pescadoras”, na comunidade Vila da Volta, nos dias 12 e13 de julho. No encontro, além das partilhas dos desafios cotidianos de cada grupo, houve oficina de artesanato feito com matérias recicláveis ou com objetos que fazem parte do dia-dia da pesca. Caixinhas de leite, tecidos, conchas, palha entre outros, foram utilizados para repassar conhecimentos sobre as criações de produtos que, aliados ao turismo comunitário, ajudam as trabalhadoras da área litorânea a melhorarem a renda.

“Eu sou pescadora, sou artesã, recebo pessoas aqui em casa graças à Rede Tucum. Sempre tentei diversificar a minha renda e espero que desse momento as outras pescadoras dos açudes possam levar conhecimento para melhorar a vida delas”, assim falou Dona Maria da Conceição da Silva Costa, facilitadora da oficina. Maria é pescadora  e membro do Conselho Pastoral de Pescadores (CPP), e há anos está na luta pelos direitos da categoria.

“É importante compartilhar com pescadoras que tem outra visão e que desenvolvem outras atividades além da pesca, a gente aprende como diversificar a renda e como se organizar para ficar mais forte” falou a pescadora de Novo Oriente, Aparecida Costa.

TROCA DE SABERES

O intercâmbio é uma realização do projeto “Pescadoras e pescadores artesanais construindo o Bem Viver”, realizado pela Cáritas Diocesana de Crateús e Conselho Pastoral de Pescadores Regional Ceará, e CISV, e cofinanciado pela União Europeia e Conferenza Episcopale Italiana. A ação possibilitou a troca de saberes entre mulheres com diferentes histórias, vivências, desde o interior do sertão até o litoral cearense. O intuito foi de criar ocasiões de crescimento e desenvolvimento para as pescadoras dos açudes que vivem numa situação de invisibilidade, preconceito e ausência de políticas públicas em condições mais graves do que os desafios experienciados pelas companheiras do litoral.

 “Além da seca que afeita essa região onde a gente atua, a pesca artesanal no Sertão se vê prejudicada por falta de leis para a proteção dessas comunidades tradicionais invisíveis e silenciadas que vivem da pesca. Nesse contexto, as mulheres pescadoras não são reconhecidas, têm baixa autoestima e em muitas situações dependem financeiramente dos maridos” afirmou Adriano Leitão, coordenador do projeto.

A intervenção do projeto até agora se desenvolveu em 12 municípios com o intuito de estimular a leitura crítica da realidade, renovar os quadros das colônias e associações com, sobretudo, a entrada de mulheres pescadoras nos corpos dirigentes e melhorar a legislação da pesca. Após da avaliação dos primeiros dois anos, o projeto agora está focado em garantir o acesso às políticas, mediante negociações com os poderes públicos, o empoderamento das mulheres para o aumento da renda e a construção das alternativas que possam garantir o desenvolvimento sustentável das comunidades da pesca no Sertão.

Por: Lorenza Strano

Revisão: Eraldo Paulino

Fotos: Lorenza Strano e Angelica Tomassini