Foto de Eraldo Paulino
Talvez não dê para medir, mas certamente é possível sentir a importância de uma pessoa pela falta que ela faz quando chega a dolorosa hora da despedida. Foi esse o sentimento coletivo de centenas de pessoas que participaram do velório de Antônia de Sousa Soares, a famosa Toinha da comunidade Ipueiras, em Quiterianópolis. Uma referência como filha, esposa, mãe, mulher, mas também como agricultora familiar experimentadora. Na casa dela foi construída uma das primeiras mandalas do município, num dos mais bem sucedidos quintais produtivos do território. Ela, inclusive, foi uma das precursoras da feira da agricultura familiar que hoje é a mais importante do Semiárido. O enterro foi realizado no último dia 13, sob lágrimas de familiares e amigos.
“Quando a gente casou, ela me disse que o sonho dela era construir uma capela na comunidade, e me pediu pra compartilhar com ela dessa vontade. Eu aceitei na hora”, contou Lenon Sousa, o esposo, literalmente dentro daquele sonho construído, na celebração de corpo presente da esposa, presidida pelo padre Donizete, o mesmo que presidira o matrimônio do então jovem casal. Enquanto Lenon não se afastava um minuto do lado do corpo da companheira, padre Donizete testemunhava: “Toinha me deu algumas lições de vida. A primeira foi dizer que casaria, mas jamais deixaria a mãe só, então o companheiro teria que aceitar isso pra casar. A última lição foi quando eu vim visita-la, já doente. Perguntei como ela estava e ela serenamente respondeu estar pronta para o que Deus tivesse preparado”, relatou o sacerdote, positivamente surpreso de como a fé dela ficara inabalada mesmo diante daquele desafio.
Foto de Cezar Magalhães
“Toinha foi uma importante animadora de comunidade. Fez parte da equipe paroquial quando eu estive por lá, junto com padre Donizete, na época iniciando a vida de esposa. Além de uma líder nata, nos deixou sendo uma das principais agricultoras de nossa região, com certeza”, elencou ir. Erbenia Sousa. Hoje coordenadora da Cáritas Diocesana de Crateús, Erbenia estava participando do V Congresso da Cáritas Brasileira em Aparecida do Norte quando soube da triste notícia, e lamentou profundamente não estar junto da família que ela tanto estima. Um grande mistério pensar que, embora estivesse distante, a irmã tenha sido um dos nomes mais presentes durante o velório. É como perceber como a saudade, causadora de tanta dor a quem ama tudo que Toinha representa, será a mesma responsável por deixar vivo tudo que ela nos deixou de bom, seja na agroecologia, seja na comunidade de fé, seja no núcleo familiar.
Toinha, sempre presente!
Foto de Ivo Sousa